Sdratvut tavárish! Káki de lá.

Eu à esquerda, Prof. Pedro à direita e uma mesa com xadrez à frente

Eu nunca soube o significado dessa frase aí do título acima…

Só sabia que era uma frase em russo. Mas, na verdade, pouco importava o significado, porque ela sempre anunciava a chegada de um forte aperto de mão, um sorriso amigo e uma agradável companhia. Passou a ser comum também que ela fosse seguida de um apontar de dedo na direção do Prof. Luis Kakimoto!

Prof. Pedro, Doutor em Engenharia Civil, vindo de Caraguatatuba, botafoguense de Ribeirão Preto. Chegou ao câmpus Campinas, com a missão inicial de ministrar aulas de gestão.

E assim o fez. Mas fez muito mais do que isso: fez muitos amigos, ensinou muito, fez muitos questionamentos e sempre levantou muitas reflexões. Um verdadeiro professor, ensinando pelo exemplo a sermos pessoas assim, questionadoras, condição necessária para a verdadeira aprendizagem.

Em 2016, para a turma 2013 que estava próxima de se formar, Pedro passou uma inusitada tarefa em sua disciplina: abrir uma empresa. Mas não era de mentirinha não, era abrir de verdade, com CNPJ e tudo! E assim, com esforço e dedicação, seus alunos cumpriram a tarefa. Passaram por uma experiência real, indo muito além da sala de aula.

Pedro e eu tornamo-nos muito próximos quando ele foi fazer o curso de extensão Xadrez Básico, que eu ministrei junto com meu amigo Oto.

Galera reunida na nossa primeira aula. Pedro de blusa cinza, com a mão sobre a mesa.
Oto, grande enxadrista e professor de xadrez

Lá no curso, o Pedro foi um aluno exemplar. Sempre participando, fazendo perguntas, trazendo informações legais… Fizemos um torneio na última aula e ele conseguiu o segundo lugar, numa disputa acirrada, vencida pelo Prof. Everton.

Durante as aulas, Pedro sempre contribuía com suas colocações, ora úteis, ora engraçadas, ora ambas! Piadas, para mim, sempre foram um assunto muito sério. E para o Prof. Pedro, também. Afirmo isso e posso provar!

Em 2019, eu decidi sair do IFSP. Junho foi meu último mês. Convidei todos os colegas para um almoço de despedida. Escrevi assim:

Gostaria de convidar vocês para um almoço de despedida, na sexta-feira, dia 07/06.
(…)
Para organizar, criei esta planilha. Quem quiser ir, por favor preencher, imprimir, assinar, escanear e protocolar no SUAP :)…

SUAP é o sistema de gestão do IFSP. Sempre tínhamos tantos documentos para preencher, então por que não burocratizarmos também o almoço =D?

Obviamente, todo mundo ignorou aquela parte do e-mail.
Todo mundo, MENOS o Pedro!

Processo aberto pelo Prof. Pedro no SUAP
Planilha preenchida, assinada, escaneada e anexada ao processo

Sim, galera… O cara realmente foi lá, preencheu a planilha, imprimiu, assinou, escaneou e protocolou no SUAP =D!! O tipo de maluquice que eu também teria feito… E que achei sensacional, me rendeu muitas risadas e uma recordação que guardo até hoje com muito carinho.

Pedro e eu gostávamos de jaca. Ele me ensinou uma definição sensacional para essa incrível fruta: “chiclete de banana”! Que descrição perfeita… Captou direitinho o espírito da coisa!

Dia desses, eu escrevi um poema sobre a jaca. E fiz questão de colocar lá a definição que aprendi com o Pedro.

Dia desses também, eu encontrei as fotos do curso de xadrez acima. Tive ótimas recordações!

Eu pensei em mandar as fotos das aulas para o Pedro ver e recordar… E também pensei em mandar o poema da jaca para ele ler, desafiando-o a encontrar a parte do texto com a qual ele havia contribuído!

Acontece… Que eu não mandei… Nem as fotos, nem o texto. Não sei o que me deu: medo de ele achar estranho, medo de seu número de telefone ter mudado, medo de várias coisas… Várias coisas irreais, vários medos irracionais, daqueles que nossa cabeça inventa quando a gente sente receio de fazer alguma coisa, mesmo que importante, que nos vá expor de alguma forma.

E, então, ontem, no dia 08/12/2022, fiquei sabendo da triste notícia: Pedro havia falecido, na manhã daquela quinta-feira. Teve uma intercorrência em um pós-operatório e não resistiu.

Chorei por sua perda, a perda de um grande amigo e ex-colega de trabalho… Alguém que inspirou muita gente, alguém que tocou muitos corações.

Chorei também porque, por algum motivo, eu deixei de enviar a ele aquelas coisas… Coisas de que certamente ele teria gostado… Algo que poderia tê-lo deixado feliz, ainda que por alguns instantes. Talvez, naqueles dias, ele inclusive já estivesse hospitalizado e debilitado. Não teria sido o melhor momento para ter recebido uma inesperada mensagem de um velho amigo?

A verdade é que não sei… E nunca saberei.

Só sei que foi assim que o grande Prof. Pedro me ensinou sua mais importante lição, que levarei para o resto da vida:

Se você tem algo importante a dizer para alguém,

seja o que for, seja para quem for…

Diga AGORA!

A hora é AGORA!

É só do AGORA que você tem certeza.

Você nunca sabe o dia de amanhã.

Essa frase, essa ideia, que a gente ouve tanto por aí… Não é só uma ideia solta. É a coisa mais real do mundo. É uma das ideias mais importantes que devemos aplicar em nossas vidas. E eu já saí aplicando:

  • Ontem, eu enviei uma reportagem para um conhecido distante, de algo sobre o país onde ele mora… Porque, naquela hora, a hora era agora.
  • Hoje, eu abri o microfone na reunião da empresa com centenas de pessoas presentes, para falar uma coisa super difícil de falar, porque, naquela hora, a hora era agora.
  • Hoje, eu estava de saída da casa da minha avó, mas voltei, para falar uma coisa muito importante e profunda para a minha irmã, porque, naquela hora, a hora era agora.

E, assim, a partir de hoje, eu farei isso sempre, e dedicarei todas essas atitudes ao Prof. Pedro, que me ensinou essa incrível lição.

E você? Quantas coisas você tem aí para falar para quem você ama? Para quem é seu amigo ou sua amiga? Para quem trabalha com você? Para quem convive com você? Para quem você não vê há muito tempo?

A vida é efêmera! Se você tem algo a dizer, diga AGORA! Se você tem desculpas a pedir, se você tem perdões a conceder, se você tem pazes a fazer, se você tem um simples assunto engraçado a compartilhar com alguém que é importante pra você… Faça, e faça AGORA!

Pedro era ateu, e eu sou espírita. Quando o assunto é religião ou pós-morte, ninguém realmente sabe de nada. Se eu estiver certo, Pedro estará agora sendo bem recebido por seus amigos espirituais para uma nova vida. Se ele estiver certo, sua vida terá apenas se encerrado. Se outra religião estiver certa, terá sido de outro jeito.

Quem está certo não importa, pois o certo mesmo é que a memória do Prof. Pedro estará para sempre entre nós, que ficamos por aqui, com muitas saudades…

Deixo aqui meus sentimentos à família e minha gratidão à Marina, sua esposa, que gentilmente me enviou a linda foto abaixo, com a qual encerro esta homenagem…

Pedro Augusto Pinheiro Fantinatti
* 15/08/1969
† 08/12/2022

5 comentários

  1. fabiana ocampos disse:

    Oi André. Não sei se vc se lembra de mim, também trabalhei no campus Campinas de 2013 a 2015. Vou seguir sua sugestão de falar o que deve ser dito e dizer que eu lamentei qdo soube da sua exoneração, o IF precisa de professores dedicados como você. Vou reescrever aqui o que um amigo escreveu qdo me mandou esse seu texto. A fala dele é sobre você e o Pedro.
    “Duas perdas insubstituíveis! Uma pela fatalidade que a vida sempre nos traz e a outra pela imbecilidade de pessoas ….”
    Compartilho da mesma opinião.
    Um abraço! Fabiana

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  2. Fabiana Salim disse:

    Nossa André, que texto lindo!!!
    Me emocionei ao ler. Fico muito feliz em pensar no legado que o Pedro boa deixou… Aquela alegria que sempre contagiava e o prazer em compartilhar seu conhecimento. Um grande homem, com certeza! Sempre estará em nossas boas lembranças!

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  3. Joice Mendes disse:

    O choro veio com a notícia dessa imensa perda, o choro veio várias vezes depois por não acreditar no ocorrido e pela saudade que já apertava o coração e o choro veio novamente ao ler suas palavras e relembrar de vários momentos com o Pedrinho, essa pessoa tão espetacular e maravilhosa.
    O Pedro realmente contagiava qualquer ambiente e em qualquer situação. Os aprendizados com ele foram muitos, as conversas banais sempre foram construtivas e, principalmente, os abraços dele sempre foram acolhedores, quentinhos e afetuosos.
    Linda iniciativa de realizar essa homenagem a esse grande homem.

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